sexta-feira, 23 de maio de 2008
Carta de Clarice para Erico Verissimo e sua Esposa.
A Mafalda e Érico Veríssimo
Washington, 7 de setembro de 1956,
Sexta-feira, 10 horas a.m.
Prezados Sr. E Sra. E. Veríssimo,
Como é do conhecimento dos senhores, meu marido e eu, não tendo infelizmente religião (por enquanto), criamos nossos filhos na idéia de Deus, mas sem lhes dar rituais definitivos, e à espera de que eles próprios mais tarde se definam.
Tendo terminado com algum esforço frase tão comprida, venha ao assunto principal que é o objetivo emocionado desta carta. Desejo perguntar-lhes se acreditam na possibilidade de padrinhos leigos. Eu acredito. No caso do sr. É da sra. Fal também acreditarem, esta carta os convida, em nome de uma amizade perfeita, a serem padrinho e madrinha de Pedro e Paulo. A condição única é continuarem a gostar deles.
No caso dos senhores não aceitarem, no hard feelings. Mas a verdade é que, por três anos, vocês têm sido os padrinhos deles, por tácito, espontâneo e comum acordo. Restaria apenas legalizar uma situação que aos poucos estava se tornando escandalosa.
Se eu disser que a idéia já me havia ocorrido mais de uma vez, os senhores hão de duvidar. Pois acreditem. Quando o senhor E. Veríssimo aventou a hipótese, meu coração se rejubilou, e, quando o digo, não estou brincando.
Aí pois fica o nosso convite. A resposta deverá ser dada antes do embarque, pois, em caso de uma afirmativa, quero anunciá-la às crianças.
Na esperança do convite ser aceito, ouso assinar.
Comadre Clarice
(sempre tive secreta inveja da comadre Luísa)
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